Doula, chá de bençãos e um quartinho todo decorado. Esses foram alguns dos cuidados recebidos por uma socioeducanda grávida e que cumpre medida socioeducativa na Unidade Feminina de Internação (UFI) do Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases). O bebê nasceu no último dia 05, de parto normal, no Hospital Maternidade da Serra. O parto foi acompanhado de perto pelo pai da criança.

A jovem de 16 anos foi acompanhada durante sua gestação pela presidente da Associação de Doulas do Estado, Aline de Almeida. Ao todo, foram cinco encontros entre a socioeducanda e a doula, que realizou o trabalho de forma voluntária.   “Logo que descobri que estava grávida, fiquei com muito medo, porque sou mãe de primeira viagem. Os cuidados que recebi aqui na UFI foram muito além do que eu esperava. Jamais imaginei que teria uma doula e isso me ajudou muito, pois eu não tinha noção de como é uma gestação e os cuidados de um bebê. Ela me passou muita confiança e me sinto mais segura em relação à gestação e ao pós-parto”, disse a jovem mamãe.

A socioeducanda contou ainda que fez todos os exames relativos à gravidez e que, durante todas os exames de ultrassom, o pai do bebê esteve presente, inclusive no dia em que descobriram o sexo da criança. “Recebi muito carinho e apoio de todos da unidade. Para mim, não falta nada, tenho tudo! O alojamento que ficou muito lindo com a decoração. Aqui, a gestante vai ter tudo o que ela precisa e até mais do que precisa”, comentou.

A jovem ainda fez o plano de parto com a enfermeira obstétrica da maternidade e visitou,  com o pai do bebê, as instalações para conhecer o local do nascimento . Além disso, ela também ganhou um chá de bençãos com direito à pintura na barriga.

Segundo a responsável pela UFI, Mayra Barcelos, a equipe de segurança da unidade e o Núcleo de Saúde do Iases elaboraram o Plano de Segurança de Parto, a fim de preparar a equipe. “No Plano de Segurança de Parto, estava prescrito todo o fluxo para o momento do parto, desde o planejamento interno do plantão organizado pela equipe de segurança da unidade até o que deveria ser feito, como fazer e para onde levar a jovem no trabalho de parto”, detalhou.

“Também fizemos reunião com duas agentes femininas de cada plantão para falar como seria o passo a passo no dia do nascimento. A doula também orientou as equipes e explicou quais eram os sinais do início do trabalho de parto e como, de quanto em quanto tempo, é a contração, como é um tampão, que é quando é preciso para levar para a maternidade, o que é estourar a bolsa e quais os documentos que deveriam ser levados. Assim que começou o trabalho de parto. Nós comunicamos aos familiares para eles prosseguirem para a maternidade, enquanto a equipe seguia as orientações dadas pela doula, como dar um banho quente na socioeducanda”, explicou Mayra Barcellos.

A gerente da UFI esclareceu que, pela legislação, a jovem ficaria com a criança por seis meses na unidade e, por isso, o alojamento materno-infantil foi preparado, porém, em uma decisão inédita, a jovem vai pôde ficar em casa cuidando do bebê com o pai, durante os próximos quatro meses. “A Resolução nº 233, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, estabelece que a internação não deverá ser aplicada em relação às adolescentes gestantes, lactantes e que outras medidas menos gravosas devem ser adotadas. E, após uma luta da UFI com a Defensoria Pública, Ministério Público e a Vara da Infância e Juventude, garantimos que um direito fosse efetivado e conseguimos uma conquista legal para liberação da jovem”, destacou a responsável pela UFI. 

Segundo Mayra Barcelos, essa é mais uma conquista para o Espírito Santo. “Recentemente, participei de um simpósio nacional de socioeducação e percebi como estamos avançados em relação ao tratamento materno às socioeducandas. E o nosso objetivo é este: nos tornar referência no tratamento das socioeducandas gestantes e de seus filhos, garantindo a aplicação da lei e dos seus direitos, bem como a adoção de medidas menos gravosas e danosas para essas jovens”, concluiu.

Alojamento materno-infantil

Um quarto decorado com desenhos infantis e com móveis novinhos para receber as socioeducandas gestantes e aquelas com bebês de até seis meses. É desta forma, cercada de todos os cuidados, que

A Unidade Feminina de Internação (UFI) agora conta com um alojamento materno-infantil. O local está preparado para receber as jovens mamães. A conclusão da reforma do local aconteceu no último dia 29 de novembro e foi uma parceria entre o Iases, por meio da Diretoria Administrativa-financeira (DAF), e o Instituto Maternus que doou os móveis que compõem o quarto: berço, cama de apoio, cômoda e itens de decoração com tema infantil.

“Entre os compromissos da atual gestão do Iases está o cuidar de perto da saúde dos nossos servidores e dos adolescentes que estão cumprindo medidas socioeducativas em uma das unidades do Instituto, e isso inclui as socioeducandas gestantes, bem como seus filhos.  O vínculo entre mãe e filho durante a primeira infância é muito forte e precisa ser preservado e cuidado para a formação dessa criança ao longo de sua vida. Foi pensando nisso que decidimos reformar esse espaço para oferecer um ambiente afetivo, seguro, salubre e com condições e estímulos adequados a mãe e bebê”, explicou o responsável pela DAF, Wesley da Silva.

De acordo com a gerente da UFI, Mayra Barcelos, o quarto ficou igual ao que é oferecido para as internas aqui do Estado. “Participar com o Iases da construção do quarto materno infantil mais estruturado e que oferta mais dignidade ao cumprimento da medida dessas adolescentes e jovens é motivo de grande satisfação”, disse.

Texto: Fernanda Pontes


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