Cinco ex-socioeducandos do Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases) compartilharam suas experiências e vivências durante o II Encontro Regional: “SINASE pra valer!”. Entre eles está Kauã de Souza Santiago, 20 anos, jogador profissional de futebol em um clube no Estado do Rio de Janeiro.  Com o apoio do Núcleo de Atendimento ao Egresso (Nuae), os ex-socioeducandos tiveram a oportunidade de contar, de forma presencial ou remota, como foram suas trajetórias no Instituto e como estão atualmente. 

Além de se tornar jogador de futebol, Kauã  também é pai da linda Ana Beatriz e noivo de Marcella. “Primeiro, só tenho a agradecer a Deus por isso tudo que ele me permitiu passar. Um ano e dois meses atrás eu me encontrava em uma situação que não tinha mais jeito. Cumpri medida na Unidade de Internação Sul (Unis Sul) e, no início da medida, as coisas estavam difíceis para mim. Tinha dificuldade de entender e seguir as normas e regras da Unidade. Mas, pelo esforço dos servidores e da equipe técnica, fui entendendo e conseguindo cumprir as normas e regras”, afirmou.

Em seu depoimento, ele contou sobre como foi enfrentar a doença da mãe enquanto ele cumpria a medida socioeducativa. “No meio da minha caminhada, passei por um período difíci,pois minha mãe foi diagnosticada com câncer. Estava ficando sem visita e, às vezes, ficava chateado no alojamento. Os jogos de futebol me ajudaram muito dentro da unidade e fiz alguns cursos. Logo após o meu alvará, Deus usou o meu empresário e, atualmente, faço parte da Golden Soccer. Fui para o Rio de Janeiro para disputar o carioca sub-20 pelo time do Carapebus e, agora, estou no time profissional”, revelou Santiago, que acrescentou ainda que, felizmente, a mãe dele foi curada do câncer.

A responsável pelo Núcleo de Atendimento ao Egresso, Caroline Baptisti Silva Tomaz, acredita que ter egressos das medidas socioeducativas ocupando esses espaços encoraja e inspira outros a cada vez mais buscar esforços na reinserção social saudável e distante das práticas ilícitas. “Em cada relato, percebemos o quão importante é o trabalho com estímulos necessários à autonomia, protagonismo e à efetivação do seu projeto de vida. Ao mesmo tempo, é necessária a articulação e o fortalecimento da rede intersetorial, uma vez que assegura o apoio necessário ao egresso em todas as esferas e necessidades da vida pós medida”, destacou Caroline Tomaz.

Ela ainda complementou: "Considerando a trajetória de vida do nosso público atendido, que, muitas vezes, é permeada por contextos de vulnerabilidade social e falta de acesso aos direitos, ver esses jovens ocupando esses espaços públicos de conhecimento, aprendizagem e trocas de experiência fortalece nossa atuação técnica, traz reconhecimento de pertencimento social a esse jovem, bem como incentiva os demais adolescentes e jovens presentes a buscarem novas alternativas de vida”.

Mais depoimentos de egressos 

Outro egresso é Rômulo Eduardo Bernardes Pereira, de 25 anos, que, atualmente, é guarda-vidas nas prefeituras de Vitória e Vila Velha, e estudante do curso técnico de Enfermagem, além de idealizador do projeto “Papo de Cria” e pai de Anaya. “O Nuae foi muito importante na minha vida, pois foram pessoas que me acolheram após a minha liberdade ser concedida. Me ajudaram a concentrar nos meus estudos, em oportunidades de trabalho e me ouvir nas vezes que me sentia ‘fraco e incapaz", sempre me dando apoio”, disse.

Sobre o projeto “Papo de Cria”, ele conta que gostaria de retribuir de alguma forma tudo que recebeu durante a trajetória no Iases e, por isso, decidiu criar o projeto. “Pensei em ajudar outros socioeducandos com ‘um bom papo’ de quem já cumpriu medida socioeducativa e mostrar que é possível a mudança, assim como uma nova chance e uma nova vida diferente da que tínhamos, antes de entrar no Iases. No meu caso, foi no Instituto que um novo homem com uma nova mente para a vida foi preparado e, hoje, estou aqui como fruto disso tudo, pois acreditei na minha mudança. Agradeço a todos que fizeram parte da minha história”, declarou Pereira.

Tiago de Souza Borges, de 23 anos, que hoje é vendedor em rede de lojas de materiais esportivos, também compartilhou com os participantes do II Encontro Regional como foi a experiência dele no Iases. “Com o acompanhamento do Iases, consegui me direcionar na vida e, atualmente, trabalho na área de vendas e me mantenho sozinho como uma pessoa adulta. Tive um acompanhamento bem de perto quando egresso e na vida adulta ainda tenho suporte da equipe do Iases, porém com menor intensidade”, comentou.  

“Se eu falar que quero ser astronauta, a equipe vem e me manda tudo o que preciso para me tornar um astronauta de fato. Se não fosse todo suporte que tive, acredito que talvez eu não tivesse toda sabedoria de vida que tenho hoje, de sair de situações da vida que o apoio psicológico me deu. Enfim, hoje sou uma pessoa feliz da vida e levo comigo todo o apoio que tive, no meu coração, para viver a vida da melhor maneira que posso”, afirmou Borges.

A jovem Zoleica Batista de Souza Teodoro, de 21 anos, cumpriu medida socioeducativa na Unidade Feminina de Internação há quase dois anos. “Hoje, estou bem. Trabalho e penso em cursar a faculdade de Direito. Me senti muito apoiada durante o cumprimento da medida e que podia contar com as pessoas. Sou muito grata à equipe, principalmente os agentes socioeducativos, sendo referências para mim a Alismara, a Maria Luiza, a Kelly, o Guerreiro e a Cidinha, entre outros. Também voltei a ser acompanhada pela equipe de Egresso e gostaria de participar de atividades voltadas para as socioeducandas que estão cumprindo medida”, revelou.

O jovem Michael Carvalho de Araújo, de 20 anos, atualmente está trabalhando com carteira assinada em uma das maiores empresas de metal mecânica do Estado, localizada em Aracruz. “Comecei há pouco tempo e, por isso, ainda estou no cargo de auxiliar de caldeireiro, mas logo, logo pego uma classificação melhor. Estou fazendo um curso técnico de contabilidade que gosto muito. Minha vida hoje está caminhando em uma direção totalmente diferente de antes e, no meu ponto de vista, em uma direção muito melhor”, afirmou.

Ele revela que perdeu grande parte da adolescência, pois estava cumprindo medidas socioeducativas. Porém, apesar de não estar onde queria ou com quem gostaria, foi uma experiência que o ensinou muito. “Imagine conviver em um ambiente pequeno por muito tempo, com pessoas que muitas vezes você nunca viu na vida? Não é fácil, mas enfim, toda essa experiência que eu vivi no Iases me ajudou muito. Ingressei no Instituto quando estava na 7ª série e lá, com o passar do tempo e as novas medidas que vivi por conta das minhas escolhas erradas, consegui concluir os ensinos Fundamental e Médio e fazer o Enem”, disse.

“Além disso, me ofertaram muitos cursos profissionalizantes e fiz boa parte deles, como, por exemplo, o curso técnico que estou fazendo atualmente. Graças a Deus, a minha família que me apoiou, ao apoio da minha equipe técnica, que me acompanhava lá dentro, me ajudou muito a me tornar o que sou hoje em dia, uma pessoa melhor”, acrescentou Araújo.

II Encontro Regional: “SINASE pra valer!”

Com o objetivo de fortalecer o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), a segunda edição do Encontro Regional: “SINASE pra valer! reuniu gestores e profissionais que atuam na rede socioeducativa dos programas de meios fechado e aberto do Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. As atividades aconteceram nos dias 29 e 30 de junho, no auditório Manoel Vereza, na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), campus de Goiabeiras, em Vitória.  O evento foi organizado pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) e contou com o apoio do Governo do Espírito Santo, por meio das secretarias de Direitos Humanos (SEDH) e Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social (Setades).

Paesse

O Programa de Atendimento aos Egressos do Sistema Socioeducativo (Paesse) acompanha os socioeducandos desde o início da medida socioeducativa de internação e semiliberdade. Em comunhão com as equipes das unidades, o Núcleo de atendimento ao Egresso, o Nuae, realiza ações que preparam de forma gradativa a saída do adolescente. A partir dos projetos de vida, o Paesse busca projetar individualmente a saída de cada socioeducando, pactuando suas ações após o cumprimento de medida socioeducativa com o sistema de garantia de direitos, sua família e o próprio adolescente.

O atendimento após o cumprimento de medida é voluntário e voltado aos adolescentes que receberam extinção de medida. Consiste no encaminhamento de cada adolescente ao mercado de trabalho, para cursos de qualificação profissional, orientação e apoio para o retorno escolar, além da articulação e inserção nos serviços de assistência social e saúde.

Se você é egresso e necessita do nosso suporte, entre em contato com o Núcleo de Atendimento ao Egresso (Nuae) pelo telefone (27) 3198-0808 ou (27) 99932-7819 (WhatsApp), pelo e-mail nuae@iases.es.gov.br ou se dirija ao escritório do Nuae, localizado no Centro Integrado de Atendimento Socioeducativo (Ciase) - Avenida Dário Lourenço de Souza, nº 48, Bairro Mário Cypreste, Vitória, Espírito Santo.

Texto: Fernanda Pontes

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