20/10/2011 13h43 - Atualizado em 01/07/2016 10h17

Adolescentes do Iases levam para a tela texto de Cecília Meireles

As adolescentes da Unidade Feminina de Internação (UFI) do Instituto de Atendimento Sócio-Educativo do Espírito Santo (Iases) iniciaram, nesta semana, uma nova oficina de pintura. A base dos trabalhos das socioeducandas é o texto ‘Primavera’, do livro ‘Cecília Meireles - Obra em Prosa’.

Durante a oficina, ministrada pelo professor Jurandi Gusmão, as socioeducandas estão confeccionando desenhos, que serão expostos na Unidade no mês de novembro. Utilizando papel cartão, tinta guache, miçangas e papel microondulado, as meninas estão aprendendo técnicas de pintura em tela, a utilização correta de combinação de cores, misturas e texturização.

A oficina também é desenvolvida com o objetivo de estimular as habilidades e a criatividade das adolescentes de forma lúdica, visando à concentração, reflexão e o trabalho em grupo. De acordo com a pedagoga da UFI, Josimara Melo, o objetivo da oficina é interiorizar a questão ambiental à realidade das socioeducandas.

Para o professor Jurandi Gusmão, a oficina propõe a aproximação das adolescentes e o trabalho em grupo. “Esta atividade dá oportunidade das adolescentes manifestarem sentimentos de amor, carinho e principalmente a da preservação e proteção ao meio ambiente”.

As aulas serão ministradas durante um mês, três vezes por semana, paralelas às atividades de escolarização, profissionalização e socioterapêuticas, e reúnem aproximadamente 28 adolescentes.



“Primavera”:

"A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação. Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou. Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera."

Texto extraído do livro "Cecília Meireles - Obra em Prosa

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Texto: Éricka Almeida
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